Aos 40 anos, Bruno Militão vai competir entre os melhores dos melhores. Para isso tem treinado cerca de 100 horas por mês.
fonte: NiT
Nesta competição quero tudo. A minha motivação até aqui era ganhar. Nada mudou.” Aos 40 anos, Bruno Militão é o único atleta português a participar na “prova das provas”, os Nobull CrossFit Games, que acontecem nos Estados Unidos da América, de 1 a 6 de agosto. O personal trainer quer, pelo menos, “chegar ao pódio”.
A competição, criada em 2007, que este ano tem lugar em Madison, no estado norte-americano de Wisconsin, reúne os melhores dos melhores. Para participarem, os atletas têm de passar por um rigoroso processo de qualificação. Este começa com o Open — uma competição online de cinco semanas, em que os atletas têm de conseguir cumprir, em direto e no menor tempo possível, um treino passado pelos júris a cada quinta-feira. Quem ficar apurado segue para os quartos de final — uma competição presencial e, depois, para as semifinais. Os atletas com melhores tempos ficam apurados para os próprios Nobull CrossFit Games.
Bruno Militão passou com distinção pelo processo de seleção, por isso, quando lhe perguntámos como surgiu a oportunidade foi categórico a afirmar: “Não surgiu, fui eu que a criei”. “Para poder chegar aqui, foi uma luta muito grande, com muito esforço e espero servir de inspiração. Aliás, uma das coisas que me faz e fez continuar a competir é o poder inspirar pessoas e fazer crescer a modalidade em Portugal, como sempre fiz até aqui.”
A paixão pelo desporto não é novidade. O atleta natural de Lisboa sempre foi um desportista nato. Começou a jogar no Futebol Clube de Alverca, onde foi campeão pela equipa de juniores. Chegou a profissional e jogou no escalão seniores na mesma equipa. Porém, quando ninguém contava, o clube declarou falência e Bruno partiu para novas aventuras.
“Joguei ainda por outros clubes, mas aos 28 anos, quando já tinha terminado a licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, decidi abandonar o futebol e encontrar uma modalidade que me desafiasse”, conta à NiT.
Como não se revia no treino de ginásio clássico, procurou alternativas, “mais viradas para os exercícios funcionais”. E foi aí que encontrou o CrossFit. Além de se tornar um atleta assíduo nas boxes, acabou mesmo por ir mais longe e abriu o próprio espaço, em 2013, o CrossFit Alvalade.
Mudou de rumo profissional, mas sentia falta da competição. Decidiu participar no campeonato nacional da modalidade — e ganhou. “A partir daí foi uma loucura. Ganhei todas as competições em Portugal, consegui chegar aos pódios internacionais, tornei-me o Fittest in Portugal [o prémio para melhor atleta de uma modalidade] por mais de uma vez, entre outros”, revela.
Porém, acredita que tudo seria diferente se tivesse experimentado a modalidade mais cedo. “A idade ofereceu-me uma maior resiliência.” A maturidade profissional e pessoal fez com que percebesse que havia muito para mudar e foi o que fez. “Alterei bastante a qualidade do treino”, diz à NiT.
“Durante muitos anos a prioridade sempre foi como treinador pessoal, como gestor, formador, pai ou marido. E acabava por nunca me dedicar completamente ao treino, apesar dos resultados serem bons”, revela. Por isso, ao longo dos últimos anos, procurou mudar e encontrar uma estratégia que o permitisse focar-se nos treinos, na recuperação, no descanso e na alimentação.
A preparação para “os jogos dos jogos”
Assim que se comprometeu a focar em si e nos objetivos, Bruno Militão fez muitas mudanças. “Passei a privilegiar a ativação dos músculos, os alongamentos e passei a fazer alguns treinos mais específicos, seja de fortalecimento, prevenção de lesões ou mesmo de melhoria de performance”, revela à NiT.
Depois, já a pensar em competir nos Nobull CrossFit Games calendarizou os treinos para se preparar para as diferentes fases de qualificação. Primeiro fez um período com treinos isolados de força e resistência, de forma mais exaustiva. “Nesta altura os treinos eram mais longos, com mais repetições e menos intensos”, explica. Depois passou para uma “fase de transição”, onde os exercícios são mais direcionados para aquilo que pode encontrar na competição. “Aqui é tudo mais intenso e já combinamos mais as diversas modalidades de treino”, conta. E continua: “Por fim, desenhei um plano mais competitivo onde o volume de treino baixa consideravelmente, mas a intensidade é muito elevada. Tentámos aproximar ao máximo as combinações de exercícios que podemos ter de fazer”.
Além de uma grande programação, foi preciso também muita dedicação e muitas horas fechado na box a treinar. “Consegui fazer sempre entre nove a onze treinos por semana que tanto duravam uma, como duas horas.”
A receita para o sucesso
Há dois anos começou a mudar radicalmente a alimentação. “Sinto que as alterações me deram outro combustível para conseguir tirar mais rendimento do meu treino, para conseguir atingir níveis de desempenho muito maiores e também para conseguir suportar mais treinos por semana e de maior exigência aos 40 anos”, diz.
Procurou a ajuda da nutricionista Juliana Pansardi, para conseguir adaptar as necessidades nutricionais a cada fase de preparação. “Percebi que o glúten aumentava a inflamação do organismo e que isso atrapalhava tanto a minha recuperação, como a minha performance. Por isso, deixei de comer produtos com glúten ou lactose e troquei a proteína whey, para uma versão vegetal, que me garante um espectro de aminoácidos mais completo.”
Um dia na vida de Bruno Militão começa pelas seis da manhã com um pequeno-almoço reforçado. Come pão sem glúten, com manteiga de amêndoa e ovos mexidos. Para acompanhar prefere um banana e sumo de laranja natural. A meio da manhã come uma peça de fruta como pré-treino e no final não dispensa a proteína em pó, que prepara rapidamente com água num shaker.
É fã de marmitas e ao almoço tem sempre a refeição já preparada para comer em qualquer lugar. “São cerca de 180 gramas de proteína, 200 gramas de hidratos de carbono, verduras e legumes à vontade. Para sobremesa gosto sempre de comer umas uvas.”
Ao início da tarde volta a treinar, por volta das 15 horas. Antes, costuma comer dois quadrados de chocolate negro e uma peça de fruta. “Durante o treino, principalmente em fases da época em que o volume é maior uso BCAA’s e palatinose (dois suplementos ricos em aminoácidos) durante o treino, para ter mais energia”, refere. No final volta a tomar proteína e come umas panquecas ou barras proteicas.
O jantar é normalmente feito em casa e mais composto que o almoço. “Como cerca de 240 gramas de proteína, 300 gramas de hidratos e legumes à vontade. Há dias que faço uma ceia, mas como me levanto cedo normalmente nem sinto necessidade”, conta.
A receita para o sucesso só fica completa com o descanso. “Após ler um livro sobre sono, oferecido por uma aluna, comecei até a ter mais cuidado com esse aspeto, fundamental para a recuperação.”